terça-feira, 11 de maio de 2010

"E não te esqueças de mim"

Um dia o Renato Russo falou:

“Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?”

Quando ouvi isso tinha 16 anos, achava que não pertencia a este mundo e não tinha interlocução. Não sabia entender o mundo e sentia que o mundo também não me compreendia.

Se o fato de na época não ter compreendido a frase em questão, o que dizer do nome da música: “Acrilic on Canvas”?

Era bom não compreender. E eu sempre digo que a sabedoria nasce da dúvida. Diferente de hoje, onde o Google não nos dá nem o benefício da dúvida. Há somente certezas, na maior parte das vezes, falsas certezas.

Aos 14, havia lido Spinoza. Duvidava de coisas tão simples, mas a curiosidade me movia. Uma das coisas que lembro de Spinoza, é que ele disse que “o esforço para compreender é a primeira e única base da virtude.”

Hoje, quase aos 40, sou a soma de tudo que li, ouvi e vi. Algumas coisas permanecem em mim. Ainda finjo que acredito em coisas que invento e me esforço diariamente para compreender. A dúvida me seduz e as certezas me deprimem.

Ser adulta tem sido cada vez mais chato e muitas vezes quando me procuram, tenho mesmo vontade de dizer “sinto muito, ela não mora mais aqui”.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Se foi, mais uma vez, dizendo: "não há nada que substitua você em meu coração".

Da terça para a quarta.

E se conheceram assim, numa madrugada da terça para a quarta, em mais uma noite de insônia de ambos. Perceberam-se ouvindo a mesma música, ao mesmo tempo, e encararam isso como um sinal. Foi a primeira, de muitas noites insones que viriam pela frente.
Passaram-se alguns dias do primeiro contato até a troca das primeiras fotos. Ela, que aceitava a todos sem preceitos ou preconceitos, tinha um problema que teimava em admitir até para si mesma, não suportava (nem por amizade) gordos, ex-gordos ou mesmo candidatos a gordos. Ficava imaginando o suor fétido que saía da adiposidade ambulante deles e já sentia repugnância. Por isso, sentia medo da chegada desse momento. Tinha medo de ver no outro, por quem já dispensava bastante estima, a imagem do que não queria para si.
Mas, para evitar futuras decepções, resolveu dar o primeiro passo e enviar uma foto sua, já esperando receber uma dele também. E assim foi. Alívio imediato. Não, ele não era de todo mau e apesar de não ser completamente magro, também não podia ser chamado de gordo. Àquela foi uma noite especial, onde puderam se entregar mais ainda a paixão lasciva de distância que os consumia.
De repente, ele era amigo dos amigos dela e ela dos amigos dele. Eram trocas de e-mails gigantes entre eles, conversas coletivas. Tentaram, mesmo que virtualmente, ter uma vida o mais próxima possível do comum. Cada vez que ela saía, postava fotos mostrando "onde, quando e como" para que ele pudesse minimamente acompanhar, se sentir próximo. Do lado de lá ele fazia o mesmo.
Certa vez, tendo que viajar a trabalho (ele ajudava no escritório de contabilidade do pai, mas na verdade queria ser veterinário), passou o final de semana incomunicável. Foi o pior final de semana da vida dela. Angústia, dor, solidão, dúvida. Ao retornar ele contou tudo, a saudade que havia sentido, a vontade de falar o tempo todo...e o pior, contou também que num momento de fraqueza (não beijava boca há pelo menos um ano) ficou com outra garota. Isso foi demais. Brigaram feio.
Dois dias depois ele envia e-mail/carta/jornal terminando tudo, fala sobre a falta de compreensão dela, da possessividade mesmo que distante, que se sente sufocado, que ela não merece pessoa como ele. Ela sofre como um cão sarnento por 24 contadas horas e decide ir chorar as mágoas num Reggae. Saiu decidida a tomar todas e beijar o primeiro magrelo-com-cara-de-surfista que cruzasse seu caminho.
Enquanto isso, ele joga tudo pro alto e pega o primeiro ônibus em busca do amor de sua vida. Viagem de 2 dias e 3 noites, em semi leito da Itapemirim. Precisava pedir perdão e falar do amor que o consumia. Chegou às 7h da manhã do sábado, mesmo horário que ela saía de casa para uma viagem de fim de semana com seu novo amor.
O resto é história de (des)amor e isso a gente não quer contar.
Mas, algumas coisas merecem ser ditas:
- Ele chegou da viagem somente com $5 na carteira;
- Ele era bem mais gordo do que os ângulos das fotos mostravam, isso causou um misto de susto e pavor nela;
- Quando falava, juntava saliva no canto da boca dele e isso acabou com todo o resto de amor e pena que ainda restavam nela;
- A passagem de volta foi comprada em leito, da Guanabara, parcelado no cartão de um amigo dela. Ele pagou tudo até o último centavo;
- Na hora da despedida ele implorou “ao menos um beijo”, ela caiu no choro, não por amor, mas por desespero. Nunca se beijaram.

Hoje, passados alguns anos, ela ainda trata de uma escoliose, adquirida de posições inadequadas na frente do computador, após meses de noites insone falando com o ex-amor. Além disso, vai todo dia 13 as missas de Nossa Senhora de Fátima, agradecer. Não sabemos qual a graça alcançada, mas essas coisas não se conta e como o dia 13 de maio ta chegando, achei justo contar essa história.

domingo, 2 de maio de 2010

Hey, Mister Tambourine Man...you belong to me

http://www.youtube.com/watch?v=5338glkSxJA

Hey, Mister Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm goin' to
Hey, Mister Tambourine Man, play a song for me
In the jingle, jangle morning, I'll come followin' you

Take me for a trip upon your magic swirlin' ship
All my senses have been stripped
And my hands can't feel to grip
And my toes too numb to step
Wait only for my boot heels to be wanderin'

I'm ready to go anywhere, I'm ready for to fade
On to my own parade, cast your dancin' spell my way
I promise to go under it

Hey, Mister Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm goin' to
Hey, Mister Tambourine Man, play a song for me
In the jingle, jangle morning, I'll come followin' you

sexta-feira, 30 de abril de 2010

É de amor e de tumor

E quando se apaixonava, nunca era pela metade. Se era pra amar, que fosse por inteiro. Se doava cegamente ao amor, achando tudo lindo na pessoa amada.
Sobre sexo, não. Não o interessava muito. Achava bonito de se ver, até gostava de fazer um pouco, às vezes. Mas para amar como num romance de Jane Austen, sexo era mesmo assunto desnecessário. Amar era coisa séria, como os amores românticos do Séc. XIX.
E, talvez, para combinar com o amor de época, a cada vez que era abandonado nascia-lhe na face um grande e tenebroso tumor. A coisa, que se instalava nele por aproximadamente um mês, lhe tirava o sono. Doía, dava febre, o fazia tomar antibióticos super fortes e ainda o impedia de ter uma vida normal. E andava se esgueirando pelos cantos, na tentativa de esconder o maldito que ficava estampado em seu lindo rosto de querubim. Sofria duplamente então, para esquecer mais um dos amores de sua vida e para tentar melhorar a pústula facial, que recebia carinhosamente o nome da falecida. Quando alguém perguntava: "o que é isso em seu rosto?" Ele bravamente respondia: "É Laura, que se foi", "É Joana, aquela bastarda". E por aí vai...As pessoas baixavam a cabeça e mudavam de assunto.
Até hoje, se não me engano, já foram 7 desastres faciais. Todos devidamente tratados em clínicas pagas, porque vocês sabem que não há espaço para dor de amor no SUS. Porém, uma, somente uma deixou cicatriz. A primeira, que volta e meia ele ainda passa o dedo e se arrepia todo ao pensar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

É o amor teimoso que me habita.

Mudar de assunto e falar agora de (des)amor, não o meu. O de vocês. Vou abrir o verbo, claro...camuflando nomes, datas, locais, formas...quem quiser que eu coloque alguma história aqui é só enviar pra meu email.