E se conheceram assim, numa madrugada da terça para a quarta, em mais uma noite de insônia de ambos. Perceberam-se ouvindo a mesma música, ao mesmo tempo, e encararam isso como um sinal. Foi a primeira, de muitas noites insones que viriam pela frente.
Passaram-se alguns dias do primeiro contato até a troca das primeiras fotos. Ela, que aceitava a todos sem preceitos ou preconceitos, tinha um problema que teimava em admitir até para si mesma, não suportava (nem por amizade) gordos, ex-gordos ou mesmo candidatos a gordos. Ficava imaginando o suor fétido que saía da adiposidade ambulante deles e já sentia repugnância. Por isso, sentia medo da chegada desse momento. Tinha medo de ver no outro, por quem já dispensava bastante estima, a imagem do que não queria para si.
Mas, para evitar futuras decepções, resolveu dar o primeiro passo e enviar uma foto sua, já esperando receber uma dele também. E assim foi. Alívio imediato. Não, ele não era de todo mau e apesar de não ser completamente magro, também não podia ser chamado de gordo. Àquela foi uma noite especial, onde puderam se entregar mais ainda a paixão lasciva de distância que os consumia.
De repente, ele era amigo dos amigos dela e ela dos amigos dele. Eram trocas de e-mails gigantes entre eles, conversas coletivas. Tentaram, mesmo que virtualmente, ter uma vida o mais próxima possível do comum. Cada vez que ela saía, postava fotos mostrando "onde, quando e como" para que ele pudesse minimamente acompanhar, se sentir próximo. Do lado de lá ele fazia o mesmo.
Certa vez, tendo que viajar a trabalho (ele ajudava no escritório de contabilidade do pai, mas na verdade queria ser veterinário), passou o final de semana incomunicável. Foi o pior final de semana da vida dela. Angústia, dor, solidão, dúvida. Ao retornar ele contou tudo, a saudade que havia sentido, a vontade de falar o tempo todo...e o pior, contou também que num momento de fraqueza (não beijava boca há pelo menos um ano) ficou com outra garota. Isso foi demais. Brigaram feio.
Dois dias depois ele envia e-mail/carta/jornal terminando tudo, fala sobre a falta de compreensão dela, da possessividade mesmo que distante, que se sente sufocado, que ela não merece pessoa como ele. Ela sofre como um cão sarnento por 24 contadas horas e decide ir chorar as mágoas num Reggae. Saiu decidida a tomar todas e beijar o primeiro magrelo-com-cara-de-surfista que cruzasse seu caminho.
Enquanto isso, ele joga tudo pro alto e pega o primeiro ônibus em busca do amor de sua vida. Viagem de 2 dias e 3 noites, em semi leito da Itapemirim. Precisava pedir perdão e falar do amor que o consumia. Chegou às 7h da manhã do sábado, mesmo horário que ela saía de casa para uma viagem de fim de semana com seu novo amor.
O resto é história de (des)amor e isso a gente não quer contar.
Mas, algumas coisas merecem ser ditas:
- Ele chegou da viagem somente com $5 na carteira;
- Ele era bem mais gordo do que os ângulos das fotos mostravam, isso causou um misto de susto e pavor nela;
- Quando falava, juntava saliva no canto da boca dele e isso acabou com todo o resto de amor e pena que ainda restavam nela;
- A passagem de volta foi comprada em leito, da Guanabara, parcelado no cartão de um amigo dela. Ele pagou tudo até o último centavo;
- Na hora da despedida ele implorou “ao menos um beijo”, ela caiu no choro, não por amor, mas por desespero. Nunca se beijaram.
Hoje, passados alguns anos, ela ainda trata de uma escoliose, adquirida de posições inadequadas na frente do computador, após meses de noites insone falando com o ex-amor. Além disso, vai todo dia 13 as missas de Nossa Senhora de Fátima, agradecer. Não sabemos qual a graça alcançada, mas essas coisas não se conta e como o dia 13 de maio ta chegando, achei justo contar essa história.
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Vale um livro.
ResponderExcluire falando c ela dia desses, ela disse q nunca mais entrou no mundo virtual pq não aguentaria outra dose dessa, dose pra ela depois disso é só de cachaça - das puras.
ResponderExcluirMarina57